Notícia - Facebook deu a Netflix e Spotify acesso a mensagens pessoais de usuários
 Época Negócios Publicou uma notícia no dia:20/12/18 10:28:09

Facebook deu a Netflix e Spotify acesso a mensagens pessoais de usuários


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Os esqueletos do Facebook não param de sair do armário de Mark Zuckerberg. Depois da revelação, semanas atrás, que a rede social deu permissão especial a algumas empresas sobre os dados de amigos de seus usuários, uma nova denúncia mostra agora que as violações foram ainda mais longe. Em reportagem publicada na noite de ontem (18/12), o The New York Times mostra que o Facebook deu a parceiros até mesmo o poder de ver mensagens privadas das pessoas.

Amazon, Spotify, Yahoo, Apple, Netflix e Microsoft foram algumas das empresas beneficiadas, com diferentes tipos de benefícios.

O jornal afirma ter obtido acesso a “centenas de páginas” de documentos gerados em 2017 por um sistema interno do Facebook para o registro de parcerias comerciais. Foram mais de 150 parcerias estabelecidas pela rede para dar privilégios a empresas – sobretudo do ramo da tecnologia – sobre os usuários, as mais antigas delas firmadas em 2010 e algumas ativas até poucos meses atrás.

O NYT também conversou com mais de 30 ex-funcionários do Facebook para corroborar as acusações, que podem ainda colocar a companhia em conflito com a Justiça norte-americana. Em 2011, a rede fez um acordo com a Federal Trade Commission em que se comprometia a não compartilhar as informações de usuários sem a permissão explícita deles.

O Facebook deu início a parcerias comerciais envolvendo os dados de seus usuários bem antes de se tornar o fenômeno da internet que é hoje, com 2,2 bilhões de usuários. A ideia era se destacar rapidamente entre as várias redes sociais que buscavam a atenção do público, usando o poder de fogo de grandes empresas para crescer associando sua marca a outros serviços online.

Assim, a empresa ainda tinha um tamanho apenas mediano quando muitos desses acordos foram feitos, e não havia estrutura suficiente para monitorá-los, reporta o NYT. Ex-funcionários confirmaram à publicação que, em 2013, eram tantas parcerias que não havia como as equipes de escalão intermediário ficarem a par de todas elas. Foi criado então um sistema automatizado que “ligava e desligava” o acesso especial de parceiros a dados pessoais, e gravava os registros dessa ação e das capacidades de cada empresa especificamente em relação aos usuários do Facebook.

Veja algumas das principais descobertas feitas a partir desses registros e das entrevistas feitas pelo NYT:

“Pessoas que você talvez conheça”

Você já deve ter ficado incomodado porque o Facebook te sugeriu adicionar pessoas cuja relação não deveria ser conhecida pela rede. Principalmente depois da aquisição do Whatsapp e do Instagram, a reclamação se tornou comum entre usuários, e casos mais extremos envolvem até mesmo pacientes do mesmo psiquiatra que acabam sugeridos um ao outro, ou um abusador sendo sugerido como amizade virtual a uma de suas vítimas.

O empresário e criador do Facebook, Mark Zuckerberg (Foto: David Ramos/Getty Images)


Nos documentos obtidos, o New York Times aponta que, conforme suspeitado, o Facebook usou, desde 2008, as informações de parceiros como Amazon, Yahoo e a chinesa Huawei (hoje considerada uma ameaça à segurança nacional dos Estados Unidos) para ter mais detalhes sobre seus usuários e sugerir novas conexões, sem explicitar isso às pessoas.

Acesso a mensagens pessoais

Muitas das parcerias descobertas envolviam dados anonimizados, com empresas de pesquisa mais interessadas em informações demográficas do que em identidades, e jogos virtuais que queriam construir grandes bases de usuários, por exemplo. Mas outras permitiam a parceiros como Amazon, Microsoft e Sony acessar dados como o e-mail pessoal das pessoas por meio de listas de amigos – algo que não é avisado pela rede. A permissão seguiu inalterada até 2017, diz o NYT.

Casos mais preocupantes envolveram até mesmo o acesso de parceiros como Spotify, Netflix e o Royal Bank of Canada a mensagens pessoais dos usuários. O Spotify, por exemplo, pôde ver as mensagens privadas de mais de 70 milhões de usuários mensalmente por meio do recurso de compartilhar músicas no Facebook Messenger. Era possível ao app de música até mesmo redigir mensagens personalizadas ou deletá-las. Já a Netflix desativou o recurso de compartilhamento no Messenger, e só por isso perdeu o acesso às mensagens.

iPhone 7 em frente de painel da marca (Foto: Regis Duvignain/Reuters)


O próprio New York Times, assim como outras oito empresas de mídia, teve acesso a listas de amigos dos usuários por meio da função de compartilhamento de reportagens no Facebook, encerrada em 2011. O jornal diz que não usou nenhuma dessas informações.

Fabricantes de celulares beneficiados

Acordos específicos eram mantidos com fabricantes de smartphones como Apple. A empresa pôde, por exemplo, esconder de seus clientes que seus telefones estavam usando dados pessoais para o Facebook, e continuou tendo acesso a números de contato e eventos de calendário dos usuários da rede mesmo depois das pessoas desativarem o compartilhamento de todas as informações.

Explicações

Em entrevista ao NYT, o diretor de privacidade e políticas públicas do Facebook, Steve Satterfield, negou que as parcerias tenham violado a privacidade dos usuários ou o acordo com a FTC. Ele admitiu falhas da rede com o público no passado, mas diz que hoje o Facebook leva a questão a sério.

“Sabemos que precisamos reconquistar a confiança das pessoas. Proteger suas informações requer equipes robustas, tecnologia avançada e políticas claras, e é nisso que estamos focados em boa parte de 2018”, diz Satterfield. A empresa de Zuckerberg afirma também não ter constatado práticas abusivas de seus parceiros envolvidos. O único erro específico admitido pela companhia foi ter permitido acesso prolongado a informações das pessoas a alguns parceiros depois que os acordos já haviam expirado.

A explilcação é reforçada em um post no blog oficial do Facebookpublilcado nesta manhã. Assinado pelo diretor de programas e plaltaformas de desenvolvedores Konstantinos Papamiltiadis, o texto diz que "nenhuma das parcerias ou recursos deu às empresas acesso a informações sem a permissão das pessoas, nem violaram o acordo de 2012 com a FTC."

Segundo o executivo, "os parceiros de integração deveriam pegar autorização das pessoas. Você teria que entrar na sua conta no Facebook para usar a integração oferecida pela Apple, Amazon ou outro parceiro". A interpretação parece ser a de que, uma vez logado no Facebook por meio do parceiro, a autorização do acesso às informações (ainda que não fosse explicitado quais informaçõe sseriam acessadas), estaria dada.

A respeito das mensagens privadas, Papamiltiadis admite o acesso de parceiros como o Spotify. Mas, maos uma vezm recorre à "autorização" dada pellos usuários. "Depois de entrar na sua conta do Facebook pelo app de desktop do Spotify, você poderia enviar e receber mensagens sem sair do aplicativo. Nossa API deu aos parceiros acesso às mensagens das pessoas para empoderar esse tipo de recurso", explica. Não fica claro se as mensagens a que o Spotify tinha acesso eram apenas aquelas me que os usuários recomendavam músicas a amigos, ou incluíam a totalidade das conversas.

Consultadas pelo jornal, empresas como Amazon, Yahoo e Microsoft também negaram violações de privacidade, mas se recusaram a dar entrevista ou detalhes. Spotify e Netflix disseram ao NYT que não sabiam do acesso às mensagens privadas dos usuários, assim como a Apple negou que soubesse dos benefícios dados em relação a seus clientes.

No Brasil, a Netflix enviou o seguinte posicionamento após a publicação desta matéria:

Ao longo dos anos, tentamos várias maneiras de tornar a Netflix mais social. Um exemplo disso foi o recurso que lançamos em 2014 que permitiu que os membros recomendassem programas de TV e filmes para seus amigos do Facebook via Messenger ou via Netflix. O recurso nunca foi muito popular, então o desligamos em 2015. Em nenhum momento acessamos as mensagens particulares das pessoas no Facebook ou pedimos para conseguir fazê-lo.