Notícia - Programa de inovação em saúde no RS pretende captar R$ 100 milhões para startups do setor
 Pequenas Empresas & Grandes Negócio Publicou uma notícia no dia:14/12/18 11:44:50

Programa de inovação em saúde no RS pretende captar R$ 100 milhões para startups do setor


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Um dos maiores complexos médicos do Brasil, com nove hospitais, mais de 1 mil leitos e 8 mil funcionários, a Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre abriu suas portas para a disrupção. Após inaugurar um centro de inovação com mais de 70 posições de trabalho, a instituição anunciou, em parceria com a venture builder techtools ventures, um programa que deve selecionar cerca de 40 startups com a finalidade de gerar inovação em prol da saúde pública e privada.

Batizada de "Programa de Inovação em Saúde", a iniciativa conjunta será estruturada em três níveis, englobando desde empresas em fase inicial até outras com produtos e soluções já em fase de testes. A expectativa é que, nos próximos três anos, cerca de R$ 100 milhões sejam captados para financiar o programa, segundo o fundador e presidente da techtools, Jeff Plentz.

Fundada em 1995 como uma consultoria e assessoria em tecnologia, a techtools se converteu 20 anos depois em uma venture builder, ajudando a estruturar, acelerar e internacionalizar startups, também investindo em algumas delas ou atraindo outros interessados em aportar dinheiro nas iniciativas. Ela tem foco nos setores de impacto social, sobretudo em saúde e segurança.


“A partir do primeiro semestre do ano que vem, teremos o programa pronto para captar investimentos. Faremos esse chamamento a princípio no Brasil, mas também no exterior por meio de nossos parceiros”, diz Plentz.

As inscrições devem ser abertas em janeiro de 2019, e um "investidor âncora" para capitanear os investimentos está em processo de definição, segundo ele.

A favor da saúde pública

Funcionando desde 1803 na capital gaúcha, a Santa Casa de Porto Alegre reúne 1,7 mil médicos para atendimentos que em sua maioria são feitos noSistema Único de Saúde (SUS), resultando num déficit anual de R$ 145 milhões. Apesar desse valor ser compensado pelas operações privadas dentro do estabelecimento (como comércios e estacionamento), trata-se de um buraco que a entidade filantrópica precisa cobrir constantemente para não ter a atuação comprometida.

Centro de inovação aberto pela Santa casa da capital gaúcha pode receber até 70 profissionais (Foto: Rogério Brandão/Santa Casa de Porto Alegre)


Por tudo isso, para o diretor administrativo da Santa Casa, Jader Pires, criar inovações dentro da instituição é um passo importante para não só zerar esse déficit, mas também levar soluções novas que tornem mais eficiente o atendimento público. “A inovação com certeza vai contribuir no processo de geração de produtividade e redução de nossos custos. O resultado será uma melhora em desempenho, para poder atender melhor as pessoas”, diz.

Às startups selecionadas, a Santa Casa vai disponibilizar o seu centro de inovação. A estrutura foi construída em parceria com a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) — que funciona no mesmo complexo da instituição — e, além das 70 posições de trabalho, conta com um espaço maker, para prototipagem e teste de soluções desenvolvidas.

“Temos o espaço, mas faltava uma mão para ajudar a gerir e a transformar ideias em negócios, problemas em soluções. Por isso, a parceria com a techtools é de grande importância”, afirma Jader. “Esperamos agora fomentar novos negócios, e cada centavo que revertermos em inovação nos ajudará a lidar com o desequilíbrio financeiro em função do atendimento público, e a seguir prestando o atendimento social”.

Para o diretor administrativo, áreas sensíveis em que as startups selecionadas poderão ajudar são justamente a gestão administrativa e de pessoal, além da logística com insumos que o complexo da Santa Casa recebe. “São duas áreas que concentram 90% dos custos”, diz.

“São milhares de profissionais que precisam ter o desempenho medido e seus horários definidos. Administramos ainda a entrega de materiais como medicamentos, próteses e alimentos. Um complexo como a Santa Casa é equivalente a 50 empresas trabalhando no mesmo local”, afirma o diretor.

O estudo afirma que mais vale a atenção voltada à saúde da família do que a focada em especialistas e aparelhos de última geração (Foto: Getty Images)


Jeff Plentz, da techtools, cita também áreas em que a tecnologia pode ser vital para salvar vidas. “Temos uma lista de prioridades que inclui UTI, centro cirúrgico, atendimento de emergência, oncologia, cardiologia e transplantes. Identificamos quase 200 áreas com inovações possíveis, mas algumas são mais sensíveis”.

Processo de aceleração

O Programa de Inovação em Saúde será separado em três áreas. Em todas elas, a ideia é que as startups possam atuar em conjunto com os estudantes e pesquisadores da UFCSPA, aliando poder de pesquisa e investimento tecnológico para superação de problemas ligados à saúde.

Em um dos segmentos, porém, essa parceria será essencial. Batizado de “criação de inovação”, ele engloba “projetos baseados em propriedade intelectual de alto potencial com pesquisa e desenvolvimento acadêmico”, segundo o comunicado emitido por techtools e Santa Casa. “É onde querermos gerar patentes inéditas”, afirma Jeff Plentz, da venture builder.

Além desse segmento, há os programas de "construção de inovação" — em que já se tem a propriedade intelectual, mas ainda é necessário desenvolver o produto — e "aplicação de inovação" — para testes e aperfeiçoamento de soluções já estabelecidas.

Na área de "criação de inovação", estima-se que 20 startups sejam selecionadas e recebam investimentos entre R$ 50 mil e R$ 200 mil, dependendo da necessidade. Já nos outros dois segmentos os aportes serão variados. Algumas das startups “provavelmente” receberão um investimento depois do processo, dependendo do resultado obtido, de acordo com o presidente da techtools.

Em todos os casos, um comitê executivo de inovação composto por profissionais da Santa Casa e da techtools ventures irá acompanhar o desenvolvimento das startups e reportar os avanços às direções de ambas. Também está previsto que analistas de projetos, propriedade intelectual e de outras áreas atuem como mentores e direcionadores da aceleração das empresas.

Para a Santa Casa, a estimativa é que até R$ 240 milhões sejam gerados em economias e melhoria de produtividade, a partir das inovações criadas pelo programa. Sem falar na possibilidade de expandir as descobertas às outras Santas Casas espalhadas pelo Brasil, e para a rede de saúde em geral.

“Já está programado termos um evento no ano que vem para mostrar esse centro de inovação, e a etapa inicial do programa. Dando certo, teremos tração junto a outros hospitais”, diz Jader Pires, que também é vice-presidente do conselho consultivo da Confederação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos, que reúne os 50 principais hospitais filantrópicos do país.