Eu já tive ansiedade e depressão
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Foi o amor de amigos
e principalmente o amor da minha família e os cuidados médicos e terapêuticos
que foram me ajudando a ter um norte para minha vida
Eu tive ansiedade e depressão
Sim, eu tive! Não tenho vergonha de dizer que 2017 foi o ano com mais surpresas
difíceis que os anos anteriores. Comecei a sentir umas dores na coluna e
joelho. A dor irradiava por todo meu corpo. Andava preocupada, pois tinha
várias responsabilidades. Entre elas, a faculdade, os serviços domésticos,
família, leituras acadêmicas e o trabalho. Trabalho com crianças e pré-adolescentes,
e minhas energias diminuíam a cada dia. Mas fiz de conta que era mais forte que
todos os poderes da MULHER-MARAVILHA e continuei.
Cada dia acordava
mais cansada. Dormia pouco, comecei a ter insônia e acordava como se tivesse
passado a noite levando uma “surra”. Corpo dolorido. Desânimo. Tentava não dar
ideia pra nada disso. Tinha uma vida cheia de coisas pra fazer, “não tinha tempo
para dores e desânimo.”
Com os dias
passando as dores aumentavam ao ponto de eu não conseguir andar. Foi quando
procurei um ortopedista, fiz vários exames e descobri doenças que estavam
também muito relacionadas com a ansiedade que estava me assolando. As dores
deram uma pequena trégua depois de alguns medicamentos e fisioterapia. Mas o
coração continuava acelerado e a vontade de não fazer as coisas do dia a dia
aumentavam. Fazia um esforço tremendo pra tentar fazer o básico do básico,
ainda assim, não estava conseguindo.
Achei que podia estar cansada, com tantas obrigações. Procurei uma médica e ela
disse que estava com TRANSTORNO DE ANSIEDADE. A ansiedade todos sentem, ela é
até importante pra nossa vida. Porque ela vem com um pouquinho de medo e essa ansiedade
comum, pode nos proteger, nos alertar pra várias situações perigosas ou pra nos
fortalecer e nos ajudar a pensar o que temos que fazer… fugir ou enfrentar.
Ansiedade que se sente quando vai fazer uma prova, passar por uma seleção
profissional, numa prova pra se tornar motorista de automóvel, quando se vai
viajar é perfeitamente normal.
A ansiedade que passei, ela paralisou a minha vida. Parei de fazer coisas
comuns e que me davam prazer. Ela transtornou, modificou toda carga de energia
que tinha para enfrentar os desafios da vida.
Sentia a vida ir parando em câmera lenta. Na verdade, era eu que estava
parando.
Voltei a médica com uma hipótese diagnóstica da minha terapeuta. Ela sugeria
que um quadro de ansiedade
generalizada poderia estar me parando. A médica leu e disse,
precisamos cuidar desse TAG e
desse início de depressão. Saí do consultório chorando porque o primeiro
diagnóstico sim, mas o segundo? Não aceitava.
Quando vi, estava deitada numa cama sem força pra nada. Tranquei a
matrícula na faculdade, fiquei de licença no trabalho e me sentia péssima.
Fraca. Sem forças. Me perguntava porque havia me deixado chegar a este ponto.
Ainda doente, me cobrava muito.
Passei meses deitada numa cama tendo crises de ansiedade. Parei a minha vida
abruptamente. Deixei minha filha se virar sozinha. Quando meu marido estava em
casa, ele, tristemente cuidava das coisas que geralmente eu fazia.
Tem gente que acha que alguém deprimido é um preguiçoso, um mimado. Na minha
família, não passei por isso. Eles me ajudavam me dando amor e carinho e isso
me fortalecia, pois me sentia amparada. E tanto suas palavras e seus
silêncios na hora certa, me envolviam numa onda de amor e esperança. Mas tudo
era muito lento. Os dias pareciam não passar. E eu chorava o tempo todo, quando
não estava chorando, estava dormindo.
Havia momentos que eu sentia vontade de viver, outras eu tinha vontade
de morrer. Aquilo parecia que não iria acabar ou pelo menos diminuir. Uma onda
de medo e crises de ansiedade tomavam conta de mim que vivi dias tão ruins, que
achava que só eu passava por aquilo. Era um sofrimento só. Era uma dor de
dentro. Uma coisa estranha… parecia a vida se esvaindo.
Aos poucos e lentamente os remédios começaram a fazer efeito. Mas ainda tinha
crises de ansiedade. Ficava dias sem banho. Comia muitas comidas gordurosas
como salgados, pizzas, lasanha porque não conseguia ir até a cozinha para
preparar algo. Comi muito miojo. Nem acredito!
Os dias passavam e
eu ali deitada. Mudei toda configuração do meu celular, assim, ninguém me via e
não falavam comigo. Queria me esconder do mundo. Tinha vergonha de ter
depressão.
Foi o amor de amigos e principalmente o amor da minha família e os cuidados
médicos e terapêuticos que foram me ajudando a ter um norte para minha vida.
As crises de ansiedade foram espaçando. Mas sentia medo e ainda não conseguia
andar sozinha na rua. Tinha medo de que algo pudesse acontecer comigo. Acredito
que quem passa entende muito bem.
Hoje me sinto bem
melhor! Mas ainda tenho alguns receios, medos. Mas já consigo dominar a
maioria. Uso menos remédios e aprendi que eles estão ao nosso dispor. Que sejam
usados apenas por um tempo. Com responsabilidade e seriedade. É o que estou
fazendo. Remédio não solucionará a fase que estou passando, mas me ajuda a
ajustar – organizar a bagunça que ficou a minha mente e meu corpo. Depois é
seguir na terapia, procurando compreender o significado para este momento onde
tudo foi descompensado. Estou curada? Não. Nunca mais a ansiedade vai me
assolar? Não sei. Posso ter depressão novamente ou entrar no estado crítico?
Não há resposta. Tudo e nada pode acontecer. Posso ficar bem e não sentir mais
nada. Embora precise aprender a lidar com os fatos da vida.
Não é fácil viver num mundo tão violento e ser uma pessoa completamente
sã. Até porque nem acredito nessa sanidade toda, humanamente falando. Mas quero
uma vida mais sadia mentalmente. Quero estar mais focada e com tempo pra me
divertir. Dar gargalhadas e olhar pra frente.
Tenho projetos.
Tenho vida e muita vontade de viver. Então a probabilidade cresce diante deste
sentimento pela vida.
Se um dia passares por uma situação parecida, peça ajuda. Socorro. Uma luz! Há
momentos que o negócio é ficar deitado. Faz parte do processo. Achando que a
vida chegou ao fim, mas não chegou e nem chegará. Ligue pra um amigo. Fale dos
sentimentos. Dos pensamentos absurdos que passam na sua cabeça. Das vontades
que dão a cada minuto.
Arrume alguém em quem possa confiar. Sei que a vontade é ficar em silêncio o
tempo todo, tente romper este ciclo. Chore. Chore. A ajuda irá chegar. Ninguém
é totalmente sozinho. E este acolhimento será importante para o próximo passo.
Vá ao médico. Mas tenha cuidado. Não vá a qualquer um. Vá também ao Psicólogo,
terapia precisa essencialmente fazer parte deste processo – podendo colocar em
ordem seus pensamentos, sentimentos e ação. A fé em algo pode ajudar. E siga em
frente. Parece o fim do mundo, mas não é. Parece que tudo se perdeu. Mas cada
coisa está em seu lugar – aguardando o momento certo para seguir o fluxo. E
poderá sentir-se bem melhor.
Não fique perto de
pessoas que ficam “querendo ajudar”, mas ao contrário, culpam você de ter
depressão. Frases como: “Levanta, isso não combina com você”. “Seja forte”.
“Essa coisa de depressão é coisa da sua cabeça”. “Você precisa ter fé em Deus”.
“Onde está aquela pessoa alegre?” “Eu comecei a ter depressão, mas não me
deixei dominar por ela não”. “Levanta e vamos dar uma volta, você vai logo
ficar boa”. Tenha cuidado com estas frases e outras que podem deixar você muito
pior.
Hoje me sinto muito
bem. Estou realizando minhas atividades e retornando pra faculdade. Dando
atenção à minha família. Saindo pra me divertir. Ouvindo músicas, fazendo
atividade física e focando na minha saúde mental