Notícia - Brasileiros são os mais pessimistas com o próprio país entre 24 nações, diz pesquisa
 26/11/18 11:30:53

Brasileiros são os mais pessimistas com o próprio país entre 24 nações, diz pesquisa


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Os brasileiros são os mais pessimistas com o futuro do próprio país, segundo pesquisa inédita do instituto Ipsos obtida pela BBC News Brasil.

Para praticamente sete em cada dez (67%), o país está "em declínio", isto é, tende a se tornar um lugar pior no futuro. Os brasileiros são os mais pessimistas dentre 24 países consultados pelo pela pesquisa de opinião Beyond Populism? Revisited ("Além do populismo? Revisto", em tradução livre). O levantamento, inédito, é da empresa de pesquisas de origem francesa Ipsos.

Na pesquisa, os brasileiros são seguidos no pessimismo pelos sul-africanos (64% acham que o país está em declínio) e pelos argentinos (58%). Os mais otimistas são os chilenos (apenas 24% acham que o Chile está em declínio), seguidos pelos alemães (25%), e pelos canadenses (30%).

Os brasileiros também são muito mais pessimistas que a média global (44%).

A pesquisa divulgada nesta segunda-feira repete um levantamento de 2016 da Ipsos cujo o objetivo é avaliar até que ponto os entrevistados confiam nas regras políticas e econômicas de seus países e o quão dispostos estão a endossar soluções populistas ou autoritárias para os problemas.

Segundo os responsáveis, os dados sugerem que a onda "antissistema" no mundo - ou seja, a tendência observada em diversos países de rejeição do establishment político e econômico - pode estar diminuindo, embora ainda seja cedo para se ter certeza.

Um indicativo dessa inflexão seria a melhora dos resultados trazidos pela pergunta sobre a percepção de "declínio" dos países: na média global, 57% dos entrevistados em 2016 achavam que seus países iam piorar no futuro, ante 44% agora.

O mesmo movimento foi observado no Brasil: em 2016, eram 72% os que achavam que o país estava em declínio, contra 67% agora. Dois anos atrás, a situação econômica do país era ainda pior - tecnicamente, a recessão acabou em meados de 2017. Ano de eleições municipais, 2016 também registrou o recorde de fases da Lava Jato - com revelações quase diárias sobre corrupção no governo.

A pesquisa Ipsos deste ano ouviu 17.203 pessoas com idades entre 16 e 64 anos em 24 países, entre os dias 26 de junho e 9 de julho. A maioria dos entrevistados é de países ricos - Estados Unidos, Grã-Bretanha, Espanha, França - e emergentes - Brasil, Índia, Rússia, México e Turquia, entre outros.

De acordo com os dados da Ipsos, os brasileiros também estão entre os que mais consideram que as regras da economia no país são injustas e favorecem quem já é rico e poderoso: 71% pensam desta forma hoje.

Apenas russos (75%) e húngaros (74%) têm uma percepção pior sobre as regras econômicas de seus países. Na média global, 63% têm esta visão, percentual menor do que o registrado em 2016, quando 69% dos entrevistados compartilhavam da ideia.

"De fato, o que o resultado desta pesquisa nos mostra é uma espécie de 'pausa' naquele movimento global que resultou na eleição de Donald Trump (nos EUA, em 2016) e no Brexit (a decisão dos britânicos de sair da União Europeia, também em 2016). Mas, como estamos falando de pesquisas de opinião, é mais prudente esperar um ano ou dois para ver se essa tendência vai se manter ou não", diz à BBC News Brasil o diretor da Ipsos Danilo Cersosimo.

Eleição de Donald Trump em 2016 é vista como expressão da onda 'antissistema' (Foto: Getty Images via BBC News Brasil)

"Esse resultado também pode estar atrelado ao fato de que vários dos países pesquisados elegeram governos de direita, de extrema-direita ou autoritários. Então, este sentimento antissistema, que teve um ápice em 2016, com a vitória do 'sim' ao Brexit e com a eleição de Trump, pode já ter arrefecido (em outros países). São dois anos de Trump, que perdeu apoio nas eleições legislativas deste ano; são dois anos de negociações travadas no Brexit", diz Cersosimo.

Para o pesquisador, a eleição de Jair Bolsonaro (PSL) representa a chegada ao poder do candidato que melhor soube trabalhar o descontentamento dos brasileiros - que se manifesta também em outros números da pesquisa.

Por exemplo, 64% dos brasileiros concordam com a afirmação "Políticos tradicionais e seus partidos não se importam com pessoas como eu", ante 59% da média global. Além disso, 81% dos brasileiros não confiam em partidos políticos (a média global é de 79%).

Quando considerados todos os países pesquisados, os partidos políticos são a instituição em que há menor confiança.

Além disso, 67% dos entrevistados brasileiros disseram "não confiar" ou "confiar pouco" no sistema de Justiça do país, incluindo os tribunais. Globalmente, este número é de 56%. Os brasileiros também são mais descrentes na mídia (67% não confiam) que a média global (65%).

Brasileiros confiam pouco na mídia, no Judiciário e nos partidos políticos (Foto: Getty Images via BBC News Brasil)

Mas, sobretudo, os brasileiros são desconfiados em relação ao governo.

Na pesquisa Ipsos, 81% disse "não confiar" ou "confiar pouco" no governo, ante 66% da média global. Neste caso, o número permaneceu inalterado em relação a 2016. Danilo Cersosimo diz que os brasileiros sempre estiveram entre os mais desconfiados em relação às instituições. Uma reversão deste quadro pode levar anos ou décadas, diz ele à BBC News Brasil.

Para Cersosimo, este movimento de contestação do establishment político já impactou o Brasil em 2016, nas eleições municipais, e atingiu seu ápice durante as eleições deste ano.

Democracia em baixa na América Latina

Se pensados em conjunto, os dados da pesquisa Ipsos sobre os países da América Latina apontam na mesma direção de um outro importante levantamento sobre as opiniões políticas dos moradores da região divulgado em meados de novembro.

Segundo a edição de 2018 da pesquisa Latinobarômetro, apenas 48% dos moradores da região prefere um sistema de governo democrático, ante 53% em 2017. Em 2010, 61% dos latino-americanos apoiavam ou preferiam um regime democrático de governo - e o índice vem caindo desde aquele ano.

Mais que isso, para 28% dos entrevistados neste ano eram indiferentes à forma de governo que gostariam de ver em vigor em seus países.