29/11/18 12:00:31
Computação imersiva vai mudar a relação entre pessoas e máquinas
Imagem:
A criança recebe um card com o desenho de um animal. Aponta um tablet ou um smartphone para ele e a magia acontece: surge na tela uma animação 3D, acompanhada de um áudio que conta o nome da espécie e a letra do alfabeto correspondente à primeira letra. É com esse produto que a startup 4DMais aposta na realidade aumentada como uma ferramenta poderosa de alfabetização.
“Optamos por trabalhar com os pequenos primeiro, desenvolvendo um sistema onde eles compram cards pelos sites ou algumas lojas, baixam o APP gratuitamente e utilizam o recurso para se divertir e aprender”, explica Kedma Tolentino, CEO da startup. Existe também um outro jogo desenvolvido pela 4DMais, este com cards de dinossauros e textos que explicam história e geografia. Nos dois casos, o estudante não precisa estar conectado à internet – basta ter baixado o aplicativo do jogo em seu dispositivo móvel.
A startup 4DMais opera dentro do inovabra habitat, o espaço de coinovação que o Bradesco mantém em São Paulo. A computação imersiva, especialidade da startup, é um dos eixos tecnológicos nos quais o banco aposta, ao lado de Open API e Plataformas Digitais, Inteligência Artificial, Blockchain, Internet das Coisas (IoT) e Big Data e Algoritmos. “Como a maioria das startups brasileiras, teríamos dificuldades se buscássemos nos introduzir sozinhos à outras empresas e startups. O inovabra habitat é um facilitador dessa aproximação”, afirma Kedma Tolentino.
Super visão
A computação imersiva vai mudar a maneira como as pessoas interagem com a tecnologia. “O que enxergamos nesse eixo tecnológico é a possibilidade de aumentar o engajamento com os clientes, enviando comunicações que ampliem a relação na medida em que o cliente veja conteúdos em realidade aumentada”, explica Fernando Freitas, superintendente do departamento de Pesquisa e Inovação do Bradesco. “Estamos nos aprofundando na computação imersiva, fazendo testes e exercitando as possibilidades”, reforça Marcelo Câmara, chefe de Pesquisa no Departamento de Pesquisa e Inovação do banco.
Mas o que é, afinal, computação imersiva? Trata-se o uso de câmeras e sensores para gerar imagens que simulam a realidade. Pode servir para games ultrarrealistas, mas também para diversos outros setores da economia.
Um hospital pode utilizar computação imersiva para pacientes que precisam recuperar o equilíbrio e a capacidade de locomoção. Agências de viagem podem gerar cenários imersivos para que o cliente passeie por um destino turístico antes de comprar a passagem. Uma construtora consegue gerar passeios virtuais imersivos pelos apartamentos que ainda nem começaram a ser construídos. Sem sair do quartel, um militar pode receber treinamento realista para os cenários mais adversos – e assim se preparar com antecedência para uma missão arriscada.
Além disso, a tecnologia apresenta uma outra possibilidade: ao invés de trazer um novo mundo para os olhos do usuário, ela pode inserir elementos virtuais dentro da realidade – o caso de aplicação prática mais famoso dessa inovação é o jogo Pokemon Go, que se utiliza da tela do smartphone para projetar o jogo sobre locais que existem de verdade.
Salto evolutivo
Existem formas diferentes de se beneficiar da computação imersiva. Em uma delas, a tecnologia pode colocar a pessoa andando por uma reconstrução cenográfica do Museu do Louvre. No segundo, se a pessoa viajar de fato para o museu e colocar um óculos especial, a tecnologia poderia fornecer mapas do local e informações projetadas ao lado de cada uma das obras de arte.
A computação imersiva representa um novo passo na forma como as pessoas utilizam suas máquinas. No início, a comunicação com um computador dependia de cartões perfurados. Depois, surgiram os códigos de programação. A partir dos anos 1970, foram lançadas as primeiras interfaces gráficas, que colocaram as máquinas ao alcance de todas as pessoas, mesmo aquelas que não têm conhecimento técnico. Foi essa a revolução trazida pela Apple e pelo Windows. Agora, a interface chegou a um novo nível, em que a tecnologia cerca o usuário, sem a necessidade de teclados ou mouses.
Os equipamentos de imersão, principalmente óculos, ainda estão em estágio inicial de desenvolvimento. O que é certo é que a próxima década será marcada pela evolução dos aparelhos de imersão. Uma previsão do grupo Goldman Sachs estima que o mercado global de computação imersiva vai alcançar US$ 80 bilhões em 2025.
Ganho de tempo
Enquanto as pesquisas caminham, algumas aplicações práticas da computação imersiva já são realidade. A startup brasileira IdeasFarm, por exemplo, trabalha com experiências imersivas há três anos. “Estamos focados no B2B para soluções de capacitação, suporte a equipe técnica e de vendas. Além disso, aplicamos essa tecnologia em outras áreas como nos segmentos de laboratórios, imobiliários e shopping centers”, afirma André Chaves, sócio da startup, que está sediada no inovabra habitat.
As possibilidades de imersão vão longe. “Posso fazer um treinamento para uma equipe totalmente em realidade virtual, onde o instrutor consegue responder às perguntas apenas usando óculos especiais”, explica Chaves. “Isso permite que gente do Brasil inteiro possa fazer o curso à distância, gerando uma grande economia na área de treinamento e capacitação”.
Um sistema parecido permitirá fornecer suporte técnico para aparelhos em realidade aumentada. Basta pegar o celular e apontar para o device com defeito e o programa gera conteúdo informativo sobre a solução para o problema – pode ser um vídeo tutorial interativo, um twitter, um bot, um PDF ou uma animação em 3D.