12/12/18 11:46:30
Declarações de futuro ministro brasileiro minimizando o aquecimento global são manchetes lá fora
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As declarações do futuro ministro do meio ambiente escolhido por Jair Bolsonaro, Ricardo Salles, estão repercutindo na imprensa internacional. Em matéria publicada na segunda-feira (10) no jornal inglês The Guardian, o correspondente Dom Phillips destaca alguns posicionamentos do futuro ministro que não correspondem a uma preocupação real com o meio ambiente.
“O novo ministro do Meio Ambiente do Brasil acredita que o aquecimento global é “secundário”, que muitas multas ambientais são “ideológicas” e tem sido acusado de alterar os planos para uma área ambientalmente protegida, a fim de favorecer negócios”, destaca o texto.
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Phillips se refere a uma entrevista que Salles deu à Folha de S. Paulo no domingo (09). Perguntado sobre “sua opinião sobre o aquecimento global”, Salles respondeu: “Eu acho que não é nem para um lado nem para o outro. Temos um dever de casa para fazer muito tangível relativo à preservação do solo, da água, ar e vegetação. A discussão se há ou não há aquecimento global é secundária. Não vou entrar nesse momento nessa discussão”, afirmou. É importante salientar que, na comunidade científica, não há uma “discussão” sobre a existência ou não do aquecimento global – há um consenso.
O texto do Guardian destaca a origem de Ricardo Salles, ex-secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo e recomendado para o ministério por “grupos empresariais e de agronegócios”.
“Ambientalistas disseram que a nomeação foi um sério revés para a proteção em um momento em que o desmatamento e a mineração ilegal na Amazônia estão em ascensão”, aponta a matéria.
Já o portal Climate Change News destaca a possibilidade da saída do Brasil do Acordo de Paris, a exemplo dos EUA de Trump. “Perguntado se o governo de Bolsonaro abandonaria o Acordo de Paris, Salles disse: “Vamos examinar cuidadosamente os pontos mais sensíveis e, uma vez terminada a análise [tomaremos a decisão], lembrando que a soberania nacional sobre o território é inegociável”.
Em entrevista ao Guardian, Marcio Astrini, diretor de políticas públicas do Greenpeace Brasil, disse que Salles “não foi escolhido por sua história de proteção ambiental. Ele foi escolhido porque aceita a agenda de Bolsonaro”. Astrini afirmou que neutralizar as agências ambientais e reduzir as áreas protegidas pode fazer o desmatamento “explodir” no país. “Esta não é uma agenda ambiental. É uma agenda de ameaças ao meio ambiente ”, diz o ambientalista.
As declarações que chamaram atenção dos veículos de imprensa internacionais não param por aí. “Salles disse à Folha de S.Paulo que o Brasil sofria de uma “proliferação” de multas ambientais que tinham um “caráter ideológico”. Ele questionou números mostrando o maior desmatamento em uma década e chamou o debate sobre o aquecimento global de ‘inócuo’ ”, salienta o Guardian.
Improbidade administrativa
As publicações não esquecem também as denúncias contra o futuro ministro. Em 2017, promotores de São Paulo processaram Salles por improbidade administrativa. Os promotores alegaram em documentos judiciais que Salles participou da alteração de mapas que delineiam uma área ambientalmente protegida no estado de São Paulo “com a clara intenção de beneficiar os setores econômicos, notavelmente a mineração”.
“Salles negou as acusações em sua entrevista à Folha e disse que destacou “erros grosseiros” no “trabalho ideológico” que havia sido feito na área de proteção ambiental em questão, acrescentando que o conselho estadual de meio ambiente havia aprovado o plano. O caso continua”, diz o Guardian.
O futuro ministro tentou se eleger para o Congresso nas últimas eleições com uma campanha que defendia o agronegócio e atacava o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, mas foi derrotado.
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“O Observatório do Clima, uma rede ambiental sem fins lucrativos, disse que sua nomeação cumpriu efetivamente outra promessa de campanha de Bolsonaro de subordinar o Ministério do Meio Ambiente ao Ministério da Agricultura. Eles alertam sobre potenciais boicotes aos produtos agrícolas brasileiros se o país desmantelar sua proteção ambiental”, aponta o Guardian.
Fim do protagonismo
Essa não é a primeira vez que o novo governo fez o Brasil aparecer nas manchetes internacionais de forma negativa pelas questões ambientais. Há algumas semanas, o governo Jair Bolsonaro anunciou que o Brasil desistia de sediar a Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP 25).
“O Brasil esta semana desistiu de sediar a cúpula global das Nações Unidas sobre mudanças climáticas no ano que vem, o mais recente sinal de que o maior país da América Latina não pretende mais ser um agente influente nos esforços para mitigar os efeitos do aquecimento do planeta”, destacou na ocasião o New York Times.
O jornal destacou declarações do futuro ministro das relações exteriores de Bolsonaro sobre o possível viés “ideológico” do aquecimento global. “O novo ministro das Relações Exteriores de Bolsonaro, Ernesto Araújo, um diplomata de carreira, chamou o movimento para reduzir o aquecimento global de uma conspiração de “marxistas” para sufocar o crescimento econômico das democracias capitalistas e, ao mesmo tempo, alavancar a China”, salientou a publicação. [The Guardian, Folha de S. Paulo, NY Times, Climate Change News]