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Atari, Walkman, Kodak, Nokia...iPhone? O que a Apple deve fazer para não cair nesse grupo
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É indiscutível que o iPhone, até o momento, foi o grande marco tecnológico deste século. Lançado em 2007, foi ele quem inaugurou a chamada economia de aplicativos. Graças ao telefone da Apple, hoje você pode andar de Uber, alugar um apartamento no Airbnb, escutar música no Spotify, pedir comida pelo iFood ou jogar com seus amigos em Fortnite, entre muitos outros exemplos.
Sim, grande parte da sua vida digital gira em torno do telefone da Maçã. E não adianta usar o argumento de que você é um usuário Android. O sistema operacional do Google – e as fabricantes de smartphones que usam esta plataforma – só cresceu realmente quando a Apple mostrou o iPhone ao público e determinou: “É assim que se faz”. Isso obrigou meio mundo da Tecnologia a “acordar pra cuspir” se quisessem continuar relevantes aos olhos do público.
E “acordar pra cuspir” é exatamente o que a Apple precisa fazer neste exato instante. Se antes o seu iPhone era quem apontava para onde a indústria de smartphones deveria ir – pelo menos em termos de hardware – agora o cenário virou. A empresa foi alcançada – e ultrapassada - pelos seus concorrentes e precisa, urgentemente, encontrar um novo rumo se não quiser fazer companhia a ícones da Tecnologia como Atari, Walkman, Palm, entre outros dispositivos que fizeram história, mas não souberam se reinventar. E viraram peças (honrosas) de museu.
Para onde ir?
Mas, antes de mais nada, uma palavra aos mais afobados: calma. Ninguém aqui está falando que a Apple vai falir ou que o iPhone será abandonado pelo público daqui um mês. O smartphone continua a ser objeto de inveja da concorrência (e de outras empresas de consumo), que ainda usa o dispositivo como referência. Além disso, os números movimentados pelo telefone ainda são superlativos.
Para ficar em alguns exemplos levantados pelo jornalista John Stoll, do Wall Street Journal: a receita levantada pelo iPhone supera 96% das empresas da Fortune 500. Além disso, o telefone representa a maior parte da avaliação de US$ 545 bilhões que a Morgan Stanley atribui ao negócio de hardware mais amplo da Apple. Para completar, a Apple, na maior parte do século 21, foi sempre a dona da próxima grande novidade: o iPod, o MacBook Air, o iPad e, claro, o iPhone. Ela quase nunca foi a primeira. Mas mostrava ao mercado como esses dispositivos deveriam ser feitos. Eles eram mais bonitos, mais fáceis de usar, mais finos e mais práticos. Sem contar que a margem de lucro obtida com a venda dos iPhones é uma das maiores – senão a maior – do mercado de Tecnologia, o que garante muito (muito mesmo) dinheiro em caixa para que a companhia fundada pelos Steves Jobs e Wozniak tente buscar a próxima “grande novidade” sem medo de errar.
Mas o problema é justamente esse: para onde ir? Não que algum concorrente da Apple tenha essa resposta. Até porque muitos deles esperam a Maçã dar o próximo passo (pelo menos quando o assunto é hardware) para seguir na toada. O problema é que a empresa comandada por Tim Cook parece estar um tanto acomodada no conforto que o iPhone representa para o seu caixa e meio cautelosa (ou preguiçosa) demais para achar ou arriscar uma próxima inovação.
Senão vejamos: a smart TV da marca nunca passou de rumores, bem como seu carro autônomo. No campo do software e conteúdo, seu serviço de música não empolga e a criação de uma suposta concorrência ao Netflix e afins no campo de streaming (incluindo a criação de produções originais da marca) também nunca saiu do papel. Para completar, sua empreitada no campo dos wearables, com o seu Apple Watch, teve um sucesso apenas moderado, que não chega a empolgar ou apontar algum caminho.
Esse modo “Não tenho pressa” pode até funcionar enquanto o iPhone continua dando um lucro absurdo para empresa. O problema é que esse cenário começou a mudar.
A queda (?)
O mercado de smartphones começou a estagnar, seja por causa da crise econômica mundial, seja por causa da saturação. Mas o fato é que essa onda atingiu também a empresa que nunca fora afetada por isso ao longo dos últimos anos: a Apple. E vários fatores indicam isso: primeiro, o volume de iPhones vendidos parou de subir. No último relatório anunciado pela empresa, o número de aparelhos vendidos no terceiro tri de 2018 foi de 46,89 milhões de unidades, um crescimento de apenas 0,44% em relação ao mesmo período do ano anterior; além disso, no dia 02 de janeiro, a companhia abriu o ano anunciado que reduziu sua expectativa de vendas para o primeiro trimestre fiscal de 2019, estimando que as receitas sejam US$ 9 bilhões menores do que o projetado. E, para completar, em agosto último, a companhia foi ultrapassada pela chinesa Huawei, que se tornou a segunda maior fabricante de smartphones do mundo (a líder continua sendo a Samsung).
E por falar em chineses, a China é a nova dor de cabeça para a Apple. Além de ter suas vendas estagnadas na região, a empresa ainda vem sendo ultrapassada por outras fabricantes locais, como Oppo, Vivo e Xiaomi, além da já citada Huawei. E a cereja do bolo é que o mercado chinês – o maior do mundo – ainda sofreu queda de 15% no volume de venda de celulares
E tudo isso acontecendo em um mercado cujo produto – o smartphone – representa 60% da receita total da Apple. Ou seja, a empresa depende essencialmente de um produto que está cercado de concorrentes que conseguem, hoje, entregar produtos tão bons quanto os dela, a preços menores.
Se esse não é o momento da empresa para procurar o próximo ato da sua história, então, meus amigos...qual seria?
Repetimos a pergunta: para onde ir?
Essa é a pergunta de US$ 1 trilhão que a Apple, pelo menos por enquanto, parece não saber responder. Em entrevista ao canal CNBC no último dia 02, Tim Cook apontou apontou para o rápido crescimento dos serviços e “wearables” - como smartwatches e fones de ouvido – como uma aposta. Segundo ele, “algum dia a Apple será mais conhecida por sua contribuição aos cuidados de saúde do que seus gadgets elegantes”.
Além disso, o executivo reconhece que as últimas tendências de entrega do iPhone indicam que sua empresa enfrenta um potencial ponto de inflexão. "A Apple sempre usou períodos de adversidade para reexaminar nossa abordagem", disse Cook em uma carta de 2 de janeiro aos investidores.
Mas, com todo respeito à Cook e à Apple, não será com smartwatches e wearables afins que a companhia vai continuar a ser a referência que toda a indústria – e os acionistas – espera.
No fundo, declarações como essa remetem mais à teimosia (ou apatia) de empresas que, no auge do seu domínio, se negam a enxergar o próximo passo. Bons exemplos estão bem debaixo do nariz da própria Apple. A Nokia, por exemplo, dominante no mercado de celulares até a década passada, se recusou a criar um sistema operacional e um telefone multitouch bons o suficiente para competir com o recém-lançado iPhone. Resultado: a empresa praticamente desapareceu do mercado, até reaparecer em 2016 e com uma participação insignificante no setor. E outros exemplos não faltam: Atari no mundo dos games, Walkman (Sony), no setor de música – dizimado pelo iPod – Kodak no mercado fotográfico, Blackberry e Palm entre os celulares corporativos...enfim, são inúmeros os casos de grandes companhias que sentaram em cima da própria majestade e foram depostas sem dó.
“A Apple tem um legado de invenção”, já afirmou Cook. Sem dúvida. Mas já está mais do que na hora da empresa californiana resgatar essa tradição. Ou ao menos reduzir a dependência do seu principal produto, diversificando melhor suas receitas entre outros produtos. Ou ele pode virar uma peça (honrosa) de museu daqui alguns anos.