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ELA FATURA R$ 420 MIL USANDO LEGO PARA EDUCAR EMPREENDEDORES
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e você, quando criança, brincou de Lego, deve se lembrar de como esse tipo de brinquedo aflora a imaginação e a criatividade. Afinal, pode-se construir praticamente qualquer forma com as peças. E se o estímulo ao pensamento criativo é benéfico na infância, por que não seria também nos negócios?
Foi que seu produto pode ser bem mais que uma brincadeira inocente que, em 1996, os professores Johan Roos e Bart Victor criaram a metodologia Lego Serious Play, logo associada oficialmente à marca do famoso brinquedo.
Descrito como “uma técnica que aumenta a capacidade de pessoas e grupos resolverem problemas”, o método tem uma certificação específica que facilitadores precisam obter para ensinar usando as pecinhas.
No Brasil, uma das poucas pessoas habilitadas a ensinar com Lego é Luciana Padovez, que aplica a metodologia em alguns dos cursos da Sempreende, escola de ensino para empreendedores que ela abriu junto com Altair Camargo em 2017, em Goiânia.
Facilitadora do Lego Serious Play desde junho do ano passado, Luciana destaca que não é só o aspecto naturalmente criativo das peças que torna o Lego indicado para estimular o empreendedorismo: seu potencial para construção de modelos físicos a partir de ideias e o caráter manualde montagem também colaboram, afirma.
“As mãos são conectadas a mais ou menos 70% das células do cérebro. Então uma coisa estimula a outra", explica.
Os treinamentos com Lego são sempre feitos com grupos, para que as construções e avaliações sejam feitas de forma coletiva – como deve acontecer nos negócios. São produzidos kits específicos para determinadas dinâmicas, que acontecem como “um aquecimento para pensar o design thinking”, segundo a facilitadora.
Em um exemplo, Luciana conta que dá a cada participante apenas seis peças, para que, em um minuto, montem um pato. Depois, mostram suas criações aos outros e as avaliam. “Eles sofrem, claro, e acham que é pouco tempo e são poucas peças. Geralmente eles acabam falando mal da própria criação, dizem que não conseguiram fazer direito”, lembra.
O exercício se repete algumas vezes, para que se tente novas formas de chegar a um bom resultado. E, no final, a facilitadora pede que se construa qualquer coisa que não seja um pato. Os resultados muitas vezes são surpreendentes, segundo ela. “A intenção não é chegar ao pato perfeito, mas estimular o pensamento divergente. Se lguém disser que uma peça sozinha pode ser o pato, está bom também. É uma forma de abrir barreiras para que a criatividade seja estimulada” diz Luciana.
Pode parecer brincadeira – e de certa forma é – mas a empreendedora garante já ter visto resultados concretos a partir dos treinamentos. “Goiânia teve uma febre de quiosques de açaí nos últimos anos. E teve um aluno que adorava fazer açaí, e queria abrir mais um desses. Depois que fizemos essa atividade do pato, ele disse que percebeu que precisava fazer algo diferente. Ele acabou entendendo que deveria fazer açaí para distribuir nas lojas, já que o talento dele era fazer o produto, e havia muito mercado para distribuir.”
Em outros casos, o benefício aparece de forma mais sutil, ao melhorar a própria capacidade da equipe de trabalhar em conjunto. “Posso pedir para um grupo de uma empresa que represente, cada um de forma individual ou em uma construção coletiva, o que representa para eles trabalhar naquela companhia. É o tipo de coisa que empodera a equipe e ajuda a entrosá-la”, diz.
A própria fundadora da Sempreende passou por certa reviravolta que exigiu uma nova forma de pensar o próprio futuro. Antes de abrir a escola com Altair, Luciana empreendeu no ramo de franquias, sem sucesso.
“Tinha uma ilusão de que abriria o próprio negócio aos 23 e aos 30 estaria rica. Abri um restaurante japonês num ponto ruim, sem planejamento, e é claro que deu errado. Vendi a loja e nenhum outro negócio funcionou bem ali”, conta.
Foi ao iniciar o mestrado em empreendedorismo e inovação na Universidade Federal de Goiás que ela conheceu Altair e novas possibilidades de negócios. O estímulo ao pensamento inovador vindo da instituição e as pesquisas conjuntas com o colega de curso levaram ambos a perceber que faltavam alternativas para levar esses conhecimentos de forma mais rápida aos empreendedores em geral.
A Sempreende ajudou a preencher essa lacuna, levando cursos rápidos e criativos para o público – incluindo o que usa Lego. “É ótimo porque ele também permite que se use para gamificação ou prototipagem de produtos”, elenca a cofundadora.
Em praticamente dois anos, a Sempreende já totaliza mais de 80 turmas e 1 mil alunos treinados. O investimento inicial de R$ 30 se reverteu em faturamento de R$ 420 mil em 2018.
Agora, o plano é levar a escola a cidades próximas. E seguir estimulando o pensamento criativo. “Acho que hoje se costuma usar modelos muito duros, teóricos, no ensino, e que é preciso refletir mais sobre a crítica, o sentimento ao criar algo. E o Lego tem esse poder.”