Notícia - DIÁRIO DE BORDO: AS LIÇÕES DA PARCEIRA DE UM FUNDADOR DE STARTUP
 27/02/19 15:32:00

DIÁRIO DE BORDO: AS LIÇÕES DA PARCEIRA DE UM FUNDADOR DE STARTUP


Imagem:


As pessoas sempre assumem que startups são puro glamour. Somos aficionados por histórias em que jovens, na garagem de suas casas, têm uma ideia mirabolante e disruptiva capaz de abalar uma indústria por completo, gerando bilhões e uma vida cobiçada por muitas pessoas.

A verdade, no entanto, é que liderar uma startup não é fácil. Não só: ser a pessoa ao lado de um fundador no início de um negócio também não é o trajeto mais simpático do mundo. O sucesso não acontece do dia para a noite e a rotina pode ser um desafio extremo para o empreendedor e seus relacionamentos pessoais.

Pedro Moura, fundador da startup Flourish, e Kayla Kraich-Moura, sua esposa (Foto: Divulgação)

Digo isso, porque meu marido, Pedro Moura, teve uma ideia cerca de dois anos atrás. Ele queria encontrar uma maneira de transformar educação financeira em algo divertido. Eu lembro exatamente do momento em que ele me perguntou o que achava da ideia das pessoas guardarem dinheiro como se estivessem jogando no celular. Na hora, eu ri, não levei a sério e segui jogando mais uma partida de Candy Crush.

Ele, entretanto, não desistiu. Muito pelo contrário: continuou pesquisando sobre o tema, se aprofundando na falta de planejamento e na dependência das pessoas por hábitos que fogem de seus orçamentos. Ele nunca parou de acreditar que poderia motivar as pessoas a desenvolver hábitos financeiros mais saudáveis. E eu admito: no começo, me mantive cética.

Kayla Kraich-Moura e Pedro Moura (Foto: Divulgação)

Talvez tenha sido o fato de que meu marido estava subitamente interessado em quanto eu ganhava ou economizava, e também por estar convencida de que tudo aquilo era um grande esquema para ele me mostrar como eu era desorganizada financeiramente. Não sei, mas me mantinha desconfiada.

Depois de um tempo, contudo, eu percebi que ele não estava querendo expor meu péssimo relacionamento com o dinheiro, mas, sim, repará-lo. Foi nesse momento que o conceito de sua startup, a Flourish, nasceu.

O começo foi difícil. Quando Pedro começou a sua jornada, ele trocou uma carreira estável e de sucesso para explorar um mundo novo. Por mais organizado que fosse, era difícil pensar em como ele iria transformar aquelas anotações no caderno em um negócio funcional. Como uma boa parceira, por fora eu abracei a animação de Pedro pelo desconhecido na idealização de sua startup.

Fundadores da Flourish e seus parceiros  (Foto: Divulgação )

Já por dentro, eu percorri os cantos escuros da mente, respirando fundo em um saco de papel. Concentrei minhas preocupações em me manter como provedora solo da nossa casa. Na época, eu trabalhava em uma organização sem fins lucrativos em São Francisco e foi difícil ver o que o futuro nos reservava.

Na maioria dos dias, eu escondia o meu temor muito bem atrás de máscaras e maquiagens. Outros dias, porém, eram mais difíceis. Nesses momentos mais intensos, eu me encontrava com raiva da startup do meu marido, culpando a empresa pela minha turbulência interna.
Era poeticamente irônico pensar que uma startup criada para combater a insegurança financeira causava em mim, olhe lá, insegurança financeira. Apesar de todos os meus medos, a minha confiança no Pedro sempre prevaleceu, porque sei que quando ele se dispõe a tirar algo do papel, ele faz acontecer.

Um ano depois

Mesa onde Pedro Moura fez as primeiras anotações do seu negócio (Foto: Divulgação)

Acelerando o tempo em um ano, posso dizer que o nosso mundo é completamente diferente. Ainda que esteja distante do glamour dos craques de futebol, a Flourish saltou da mesa da minha cozinha para a prestigiada aceleradora de startups da Universidade de Berkeley (Skydeck). Agora, o dresscode mudou de camiseta surrada e cuecas para o jeans – o smoking dos empreendedores de tech.

As parcerias começaram a ser fechadas, as pessoas passaram a ser empoderadas pela ideia, e a startup está finalmente ajudando americanos a construir melhores hábitos financeiros. Conhecendo o Pedro, não tenho dúvidas de que a empresa continuará trilhando o caminho do sucesso. Um dia, eu vou olhar para trás e rir dos momentos difíceis dessa incrível jornada.

Dicas (ou como seguir de pé)
Uma comparação que eu faço da Flourish na nossa vida é a de um filho que tenho com meu marido. Nós comemos, dormimos, bebemos e pensamos na startup dentro de casa. De certa maneira, a empresa se tornou um membro da nossa família. Ela é o principal tópico dos nossos jantares e até nossos amigos se preocupam com ela. Discutimos como a Flourish tem crescido, como às vezes tem dificuldades para andar sozinha, sempre com a certeza de como é bom criar algo no mundo.

Anotações de Pedro Moura na mesa de sua casa (Foto: Divulgação)

Apesar de todo medo, ansiedade e turbulência, estamos superando com alegria e orgulho todo esse processo. Por isso, listo algumas lições da minha experiência.

Confira abaixo:

Confie no seu parceiro(a)
Muitas vezes, você se encontrará em momentos de extrema dificuldade. Por isso, é importante que haja confiança na relação construída por vocês, com transparência, suporte e amor.

Esteja preparada(o)
Não importa quanto ame seu parceiro, seu relacionamento será abalado. Prepare-se para colocar os egos de lado e seja realista sobre o que lhes aguarda na jornada. Aproveitem a experiência juntos.

Não se esqueça de nada

Kayla Kraich-Moura, nascida na Califórnia, vestindo a camiseta da seleção brasileira  (Foto: Divulgação )

Há muita beleza em começar algo impactante do zero com o propósito de criar algo de bom para o mundo. Portanto, não deixe ninguém esquecer disso. O processo pode ser solitário. Comunicar-se abertamente com seu parceiro é uma boa maneira de se lembrar do objetivo final.

Arrisquem-se (juntos)
Sem sombra de dúvidas, o que essa experiência mais me ensinou é que há valor em se arriscar e sair da zona de conforto. A jornada até aqui foi turbulenta, mas cada dia continua preenchido de altos e baixos e reviravoltas. No fim, eu sempre me mantenho confiante que tudo vai valer a pena.

Certamente começar um novo negócio é um trabalho em equipe, e é de extrema importância ter o apoio das pessoas que nos rodeiam.

*Kayla Kraich-Moura é nascida na Califórnia, Estados Unidos, e esposa de Pedro Moura.