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Edtech: conheça um dos setores mais quentes do mercado de startups
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Felipe Moreno é editor-chefe do StartSe e fundador da startup Middi, era editor no InfoMoney antes
Entre alguns dos setores mais relevantes das startups no Brasil e no mundo, acredito que um dos que mais me chamam a atenção é o de startups de tecnologia voltadas para educação. Afinal, educar e capacitar as pessoas é um desafio enorme capaz de mudar a sociedade de uma maneira muito significativa.
Não é à toa que chamam o setor de EdTech da “nova FinTech”, ou seja, do novo setor queridinho do mercado. A expectativa é que ele se torne cade vez mais relevante nos próximos anos, quando espera-se que os governos comecem a adotar soluções que estão surgindo no momento, criadas por uma infinidade de empreendedores.
Isso é especialmente verdade para o nosso país, onde ainda existem uma quantidade elevadíssima de desafios no setor educacional. “O Brasil é um país gigante e um dos setores mais importantes é o da educação. São muitos desafios a serem resolvidos, que países desenvolvidos já conseguiram solucionar. E onde há desafios, há oportunidades”, diz Guilherme Junqueira, CEO da Gama Academy.
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Educação é fraca no Brasil
O Brasil é um país que ainda ensina muito mal a suas crianças, adolescentes e até mesmo os adultos que necessitam fazer cursos de profissionalização. “Eu acredito que o Brasil tem um imenso potencial e nós temos que desenvolver isso não somente em nossa juventude, mas também nas pessoas que já estão inseridas no mercado de trabalho a mais tempo”, acredita Samir Iasbeck, CEO e fundador da Qranio, uma das startups “estrela” deste setor não apenas no Brasil, como no mundo inteiro – escolhida pelo Facebook como o melhor aplicativo de toda a América Latina.
É um mercado de tamanhos continentais para onde você olhe. “O Brasil tem mais de 50 milhões de estudantes (de todos os níveis), aproximadamente 2 milhões de professores e mais de 200.000 instituições de ensino reguladas. O setor como um todo ainda possui inúmeras ineficiências, tanto qualitativas quanto quantitativas, mas durante os últimos anos o Brasil avançou muito nesse segmento e, consequentemente, existem inúmeras oportunidades para se empreender”, fala Matheus Goyas, um dos fundadores da AppProva.
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Por isso, é possível que diferentes startups foquem pontos diferentes do setor – abrindo uma infinidade de oportunidade para empreendedores e também para os investidores que resolverem entrar na barca. “No caso da Gama Academy, nosso mercado alvo é o do ensino superior e profissionalizante, que movimenta mais de 35 bilhões de reais e sofre com inúmeros problemas de evasão e empregabilidade dos seus alunos, e é exatamente nessa lacuna que visualizamos uma grande oportunidade de negócio”, explica Junqueira.
Como via de regra, o mercado brasileiro ainda está engatinhando, enquanto os Estados Unidos estão muito mais maduros neste sentido – e haverá grandes oportunidades quando as startups amadurecerem ainda mais. “O Brasil passa por um momento parecido ao que aconteceu nos EUA quando foram criadas startups que depois foram vendidas por bilhões. E isso provavelmente vai acontecer aqui, o que estimula qualquer empreendedor”, acredita Claudio Brito, CEO da Acelera Startups.
O objetivo, porém, é claro: melhorar o ensino das pessoas, o que acaba, por sua vez, gerando benefícios financeiros para os empreendedores. “Precisamos criar formas para que todas as pessoas, independente da faixa etária ou condição econômica, tenham oportunidade de aprender em um ambiente moderno e motivador. Enquanto fundador de uma startup na área da educação, me sinto na responsabilidade de contribuir para que esse novo cenário se converta em realidade”, explica Samir.
Os resultados podem ser gigantescos: “vamos mudar o Brasil! É o caminho mais trabalhoso, mas o único que promove mudanças de largo prazo. E com tecnologia atendemos em escala e medimos em tempo real engajamento e desempenho, o que permite corrigir a rota na hora sem gastar mais”, afirma Felipe Dib, CEO da Você Aprende Agora.
Um setor ainda cheio de desafios
A competição se tornou elevada no setor de EdTech – e somente quem tem vontade de mudar o mundo de verdade continua no setor tranquilamente. “Os desafios são enormes porque o setor virou a bola da vez e existe muita gente boa, disposta e algumas patrocinadas por investidores bilionários nesse mercado, o que de certa forma afasta os aventureiros e deixa no mercado apenas quem investe no setor por propósito de vida”, acredita Brito, da Acelera Startups.
O importante é notar que o setor avança conforme a cabeça dos educadores muda e caminha em direção do futuro – onde a tecnologia desempenha um papel cada vez mais importante na vida das pessoas. “A nossa forma de propor aprendizado para as pessoas, seja na escola, em um ambiente corporativo ou em qualquer outro local, precisa acompanhar a tendência do contexto cultural em que estamos inseridos atualmente. Se os educadores ficarem presos aos velhos hábitos, o ensino não poderá evoluir. É necessário aproveitar as oportunidades que o desenvolvimento tecnológico nos proporciona”, explica o fundador da Qranio.
Além disso, há uma concentração do setor nas mãos de um único player do mercado: o Estado, que tem como dever impulsionar a educação no Brasil, mas não é conhecido por sua agilidade e clarividência. “Na minha opinião, o grande desafio é que mais de 80% do setor de educação está nas mãos do poder público (municípios e estados), o que acaba acarretando mais burocracia, menos agilidade e baixíssimos índices de investimento em inovação”, afirma Junqueira da Gama Academy.
É importante notar que o governo nem sempre tem o interesse ou expertise para incluir tecnologia no setor – ainda há muito que se fazer em muitas áreas e esse salto talvez não seja o prioritário agora. Afinal, é difícil pensar em incluir novas tecnologias quando boa parte dos professores da rede pública não possui o conhecimento adequado para lidar com elas. “É uma fatia impossível de desconsiderar para quem sonha grande, mas se relacionar com o Governo é muito difícil. Além disso, a administração pública possui problemas enormes para resolver no dia a dia das redes e muitas vezes soluções educacionais que envolvam tecnologia não estão entre as prioridades do administrador”, destaca Goyas.
Colabora para essa situação a infeliz condição das nossas redes de dados – não dá para pensar em conectar pessoas através de aplicativos, quando em boa parte do interior brasileiro é difícil coloca-los para funcionar. “Conectividade é um desafio importante. Muito se fala em soluções na nuvem, apps para mobile, realidade aumentada, etc. O empreendedor que quer atender todo o mercado tem que estar preparado para construir soluções que consomem pouca banda ou funcionem offline. Não podemos esquecer dos desafios da banda móvel no Brasil e dos desafios de infraestrutura que um país de dimensões continentais possui”, lembra Goyas, da AppProva.
A baixa qualidade do ensino tradicional brasileiro também tem que ser elevada para que possamos incluir novidades que melhorem a capacidade de aprendizado do aluno – por enquanto, a grande maioria das medidas tomadas ainda foram, muito ineficazes. “É importante ter o conhecimento de todos os processos e estrutura da escola, entender a realidade dos professores e os desejos e necessidades dos alunos. Na minha opinião, muitos empreendedores ainda insistem em criar soluções educacionais, mas não sabem que somente 22% dos alunos do Brasil terminam o nono ano com conhecimento adequado em português e 11% com desempenho adequado em matemática. Esses são os maiores problemas que temos que enfrentar e ajudar a solucionar, e é o foco da administração pública”, adiciona Goyas.
Brasil ainda não é aberto ao empreendedorismo
Se existe toda uma complicação por conta da baixa qualidade de ensino no Brasil, também existe pela dificuldade dos brasileiros de tirarem suas ideias do papel e empreender – infelizmente, não somos um país muito aberto para o empreendedorismo. “Empreender no Brasil é um ato de transgressão, pois quase tudo conta contra, mas quando penso que podemos ser vanguarda de empreendedorismo com educação e levar o nome do nosso Brasil como referência em uma EdTech, é como ganhar um ouro olímpico”, destaca Samir.
E também um ponto importante do setor de tecnologia: a dificuldade de ser a novidade de hoje, mas talvez a velharia de amanhã. “Um dos maiores desafios (de tecnologia) é que precisamos estar sempre nos atualizando. Não podemos deixar que a inércia nos influencie ou correremos o risco de ficarmos obsoletos. Atuar na área de inovação tecnológica acarreta esse tipo de necessidade. Para vencermos esse obstáculo, procuramos sempre participar de eventos na área de tecnologia, de forma a nos mantermos atualizados. Ás vezes precisamos correr contra o tempo para garantirmos o bom andamento do nosso trabalhado”, completa Samir.
A Qranio não trabalha com a educação tradicional das escolas, focada muito mais no mundo corporativo no momento – e esse é um cliente difícil de conquistar. “O segundo desafio que gostaria de citar é o fato de que precisamos provar, de forma bastante evidente e clara, a nossa eficiência para os clientes. Isso decorre do fato de atuarmos em uma área ainda um tanto desconhecida no Brasil. As pessoas demonstram certa desconfiança no começo. Mas depois que conseguimos evidenciar para elas a potencialidade do produto que desenvolvemos, elas ficam encantadas”, continua Samir.
E mais um desafio vem à mente do empreendedor: a dificuldade de achar gente qualificada para sua startup. “Por fim, gostaria de citar a dificuldade que muitas vezes enfrentamos em encontrarmos profissionais capacitados na área de Desenvolvimento Mobile para colaborarem com o nosso trabalho. Acredito que esse setor oferece relevantes oportunidades no mercado de trabalho e deveria ser mais estimulado e divulgado atualmente no Brasil, pois as oportunidades são diversas e tendem a crescerem”, completa Iasbeck.
Se o mercado é dominado pelo governo e ele é extremamente imóvel, o jeito é procurar os outros 20% do mercado que é mais flexível. “Como empreendedor do setor, vejo que a grande saída está em começar atendendo o mercado privado, até ter fôlego para conseguir entrar em vendas mais complexas para o poder público, o que torna o caminho ainda mais gratificante”, explica Junqueira.
Setor é um dos mais gratificantes
Ao mesmo tempo que existem os desafios, vale destacar que este setor é um dos que mais recompensam pessoalmente o empreendedor. “É muito gratificante. Antes de tudo, eu sempre me interessei por criar uma forma de tornar o aprendizado algo divertido. Desde criança eu gosto de imaginar e inventar novas maneiras de aprender. Eu acredito que a aprendizagem precisa ser desenvolvida por meio de um processo atrativo, estimulante e dinâmico. Além disso, trabalhar com inovação e tecnologia é muito prazeroso. Estamos sempre aprendendo coisas novas e temos a oportunidade de agregarmos toda a nossa criatividade nos produtos que desenvolvemos”, salienta o empreendedor, fundador da Qranio.
Empreender na educação é poder retribuir para a sociedade de maneira ética. ”É maravilhoso saber que podemos empreender, desenvolver negócio e ao mesmo tempo retornar valor para a sociedade. Sabemos que o AppProva não consegue resolver todos os problemas, mas certamente ajuda o ecossistema de educação. Por exemplo, em nosso caso, os alunos não pagam para utilizar nossas soluções de ENEM e OAB. Temos resultados comprovados e surpreendentes do impacto que causamos na vida de milhares de indivíduos”, explica Goyas.
Mesmo quem foca o mercado corporativo tem grandes felicidades ao ver o projeto funcionando. “É muito gratificante poder atuar no planejamento de um aplicativo juntamente com um cliente e depois poder ver o produto finalizado, todo personalizado e podendo atender as demandas específicas daquele cliente. E depois que o aplicativo fica pronto, receber a notícia de que todos os colaboradores da empresa parceira estão engajados no projeto, não tem preço. Esse tipo de recompensa é o que me motiva todos os dias e faz com que eu me dedique cada vez mais em divulgar a ideia de que aprender pode ser muito divertido. Esse é o principal objetivo do Qranio. Tornar o aprendizado algo divertido para todos ao redor do mundo”, afirma Samir Iasbeck.
Contudo, isso não significa que os outros setores não tenham suas gratificações. “Criar uma startup significa gerar oportunidade de trabalho para outras pessoas em um ambiente inovador, no qual elas têm a chance de se desenvolver profissionalmente em um setor que valoriza a criatividade. Com tudo isso, me sinto privilegiado por ter a oportunidade de contribuir com a formulação desse novo cenário que, com certeza, irá beneficiar grandemente o nosso país”, completa Samir Iasbeck.
É importante ver o impacto que você pode ter na vida das pessoas. “Recebi uma vez uma mensagem de um garçom do Rio de Janeiro que agora consegue falar inglês com os clientes e por isso se tornou gerente e isso é maravilhoso!”, lembra Dib, recontando o caso de Claudinho, hoje gerente do Belmonte, no bairro do Leblon, Rio de Janeiro.
Setor vai melhorar a educação?
A tecnologia é importante pois tem feito o setor de educação cada vez mais eficiente – sobretudo ao reduzir o custo da propagação da informação, tão importante para que as pessoas tenham um aprendizado pleno. “O cliente tem excelentes oportunidades ao seu alcance por um preço só permitido pelo mercado de massa. Do outro lado a luta será acirrada pelo coração do cliente, que está cada vez mais exigente”, salienta Brito.
Quanto mais tecnologia, mais aprendizado. “A convergência digital tão comentada anos atrás vai afetar todos os setores com uma velocidade jamais vista e com a educação”, destaca Brito. “Isso já está acontecendo o que posiciona bem as plataformas que entenderam isso e vão oferecer pás e picaretas para a corrida ao ouro”, completa.
Todos os envolvidos no setor conseguem ver o impacto que algumas empresas estão tendo – não apenas as citadas aqui nesta matéria, você pode ver mais startups de educação na nossa base de startups. “Sem o setor de EdTech, não teríamos inovação no setor de educação”, afirma Junqueira. “Startups como Descomplica (cursinho online de Enem) e Geekie (plataforma de aprendizagem adaptativa) são grandes exemplos de empresas de sucesso, que trazem grandes inovações para alunos e geram um enorme impacto no mercado”, exemplifica o empreendedor CEO da Gama Academy.
O setor é um dos mais promissores
Por conta do potencial, alguns investidores que tradicionalmente não gostavam de startups acabaram muitíssimo interessados, como o homem mais rico do Brasil. “EdTech já tem sido um grande foco de investidores pelo tamanho do potencial, trazendo nomes como Jorge Paulo Lemann para investir no segmento”, lembra Junqueira.
Ainda existe uma avenida aberta referente ao setor de educação, que pode ser preenchida por você, se desejar empreender. “É um oceano azul de oportunidades! São poucas startups produzindo conteúdo de qualidade para educação no Brasil e isso faz com que possamos crescer muito mais rápido”, afirma Dib, da Você Aprende Agora.
Basta saber qual caminho tomar, e o que você pode “digitalizar”. “Para o empreendedor vale se perguntar menos sobre qual o próximo setor a passar pela digitalização e mais sobre qual tem mais relação com o meu propósito de vida, pois para onde se olhe teremos novas oportunidades e mercados tão promissores quanto Fintech e Edtech”, afirma Brito.
Ajuda bastante que grandes grupos de educação são alguns dos corporate ventures mais ativos no Brasil, trazendo bastante dinheiro para as EdTechs e seus fundadores. “Grupos educacionais como Kroton, Estácio e Anima, já investem em startups e esse número tende a ser cada vez maior, fazendo que o setor de EdTech seja tão atrativo e lucrativo como o setor de FinTech”, completa o CEO da Gama Academy.
E lembre-se, se resolver empreender nesta área: os resultados que você obter podem ser gigantescos frente as vidas das pessoas – e isso não tem preço. “Filosoficamente acredito que o setor de educação está na frente quando pensamos no valor social que os bons resultados podem gerar”, diz Goyas.