Notícia - Cientistas parecem ter descoberto células neurais ligadas ao comportamento homossexual
 15/08/18 21:58:35

Cientistas parecem ter descoberto células neurais ligadas ao comportamento homossexual


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Um novo estudo da Universidade Estadual de Ohio (EUA) descobriu uma forma surpreendente como cérebros jovens podem ser moldados para o comportamento sexual mais tarde na vida.

Determinadas células imunes geralmente ignoradas pelos neurocientistas parecem desempenhar um papel importante na determinação da homossexualidade, pelo menos em ratos.

O papel dos mastócitos

Para entender melhor o papel das células, chamadas mastócitos, os cientistas as “desligaram” em fetos de ratos e observaram o desenvolvimento dos animais mais tarde na vida.

Primeiro, os pesquisadores emparelharam os machos com uma fêmea receptiva ao acasalamento para observar se eles as perseguiam sexualmente. Os machos com mastócitos desligados eram muito menos interessados do que os machos típicos, agindo quase como fêmeas.

Os pesquisadores também manipularam ratas recém-nascidas, ativando os mastócitos nas fêmeas com um estimulante químico. Quando adultas, elas agiram como machos.

“É fascinante observar, porque essas fêmeas não têm o ‘hardware’ para se envolver em comportamento reprodutivo masculino, mas você não sabe disso pela maneira como elas agem. Elas parecem estar fortemente motivadas a tentar se engajar em comportamento sexual masculino com outras fêmeas”, explicou a pesquisadora Kathryn Lenz, professora de psicologia e neurociência na Universidade Estadual de Ohio.

O que pode causar essas mudanças?

Os pesquisadores descobriram que o estrogênio, um hormônio que tem um papel importante no desenvolvimento de características masculinas em ratos, ativa os mastócitos no cérebro. Esses mastócitos, por sua vez, impulsionam o desenvolvimento sexual do animal.

Embora os cientistas já soubessem que diferenças sexuais são programadas por hormônios durante o desenvolvimento inicial, nosso conhecimento sobre as mudanças no nível celular que contribuem para essas diferenças era limitado.

“Estamos realmente interessados nos mecanismos fundamentais que impulsionam o desenvolvimento cerebral e o desenvolvimento cerebral específico do sexo, e este estudo descobriu que os mastócitos – células imunes envolvidas em reações alérgicas – desempenham um papel fundamental”, resumiu Lenz.

Se o desenvolvimento humano espelha o que foi visto neste estudo animal, é possível que influências relativamente menores – como uma reação alérgica, lesão ou inflamação durante a gravidez – possam conduzir o desenvolvimento do comportamento sexual nos fetos. É até concebível que tomar anti-histamínicos ou analgésicos durante a gravidez possa afetar esse comportamento.

Entendo as ligações no cérebro

O estudo concentrou-se na área pré-óptica do cérebro, que faz parte do hipotálamo. Essa é a área mais sexualmente dinâmica do cérebro. Por exemplo, já era conhecido que essa região cerebral é altamente importante para comportamentos reprodutivos e sociais do tipo masculino e para iniciar o comportamento materno em fêmeas.

Trabalhos anteriores já haviam descoberto o papel de outro tipo de célula cerebral, a microglia, na direção do comportamento sexual. No novo estudo, os cientistas notaram que os mastócitos ativam a microglia.

Além das mudanças comportamentais documentadas, os pesquisadores examinaram as mudanças no nível celular. As ratas expostas a uma dose do hormônio masculinizante estrogênio tiveram um aumento de mastócitos no cérebro. Essas células liberaram histamina, que estimulou outras células cerebrais (a microglia) a ativar a padronização cerebral masculina típica.

Além da homossexualidade

A descoberta também pode ajudar a explicar os riscos para condições psiquiátricas e neurológicas que são mais comuns em homens, incluindo autismo.

“Esses mastócitos parecem cruciais para o desenvolvimento do cérebro ao longo da vida, embora existam relativamente poucos deles, e isso deve realmente abrir nossos olhos para o papel potencial de diferentes células imunes no cérebro humano”, sugere Lenz.

Um artigo sobre o estudo foi publicado na revista científica Journal of Neuroscience. [MedicalXpress]